Séries e TV

WandaVision aborda sexismo da época de maneira divertida

  Daiane de Mario    quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A década de 60 não foi exatamente uma época divertida para as mulheres. Mesmo no reino da sitcom, as esposas ficavam em casa e, mesmo quando eram gênias e bruxas, resignavam-se a tudo que seus maridos queriam fazer. Claro, houveram algumas mudanças nesse modelo, mas na maioria das vezes, as mulheres estavam na cozinha e os homens traziam o “pão de cada dia” para casa.

Em WandaVision da Marvel e Disney +, vemos Wanda Maximoff se encaixando neste mundo de sitcom quase perfeitamente, mas a série não apaga completamente o fato de que o sexismo existia. Em vez disso, eles fazem comentários divertidos ao longo dos dois primeiros episódios.

** Spoilers para os dois primeiros episódios de WandaVision **

A maior parte da década de 1960 foi repleta de estranhas técnicas de “sedução”, embora na televisão os casais não dormissem nas mesmas camas. Fica difícil saber como as coisas funcionavam na realidade já que nossa maior referência da época acabam sendo de programas como I Love Lucy e The Dick Van Dyke Show.

WandaVision aborda sexismo da época de maneira divertida

WandaVision, de alguma forma, dominou a arte de tocar no espaço de sitcom enquanto ainda chama a atenção para o sexismo que existia na época e nesses programas que tanto amamos. Sob o pretexto de Wanda e Visão serem um casal “incomum”, a série permite que sua dinâmica prospere ao colocar esses aspectos sexistas em outros casais ou nos “comerciais” que aparecem nos episódios.

Agnes, uma personagem que lembra a Ethel de I Love Lucy, ainda é vítima dos pensamentos sexistas da época. Fazendo piadas sobre como ela é uma dona de casa, tendo uma refeição gourmet pronta e trazendo “The Husband Issue” de uma revista para ajudar Wanda a se preparar para um “aniversário” que nem Wanda nem Visão conseguem se lembrar, ela é um olhar interessante para lidar com aqueles arquétipos nesses programas.

WandaVision aborda sexismo da época de maneira divertida

Mesmo quando a série “brinca” com esse arquétipo presente nos programas dos anos 60, eles ainda são muito sutis. As mulheres foram ensinadas a fazer coisas para chamar a atenção dos homens. Sempre foi sobre como você poderia mudar a si mesma pelo homem em sua vida, e não o contrário.

No primeiro episódio, Wanda e Agnes discutem uma técnica de sedução para Visão (que já é marido de Wanda) e leem que uma dessas técnicas é literalmente cair para que um homem possa te pegar.

Claro, é engraçado agora porque nenhuma de nós cairia nos braços de um homem (bem, não de propósito). E os comerciais vendendo produtos para mulheres para beneficiar seus maridos? É aí que a série realmente mostra o sexismo de época que existia!

Não era realmente sobre o que tornava a vida de uma mulher mais fácil. Era sobre seu marido estar feliz com seu trabalho.

A parte mais incrível de tudo isso é que nunca é o Visão quem está acostumado a mostrar esse sexismo. Seu relacionamento com Wanda é equilibrado, cheio de nuances e um campo de jogo bastante centrado. Quando Wanda está cozinhando e não consegue “desenrolar” o jantar, eles trocam de lugar, e isso nos lembra do fato de que é assim que Wanda e Visão se uniram em primeiro lugar.

Mas a série não se inclina muito para esse sexismo em si. Há apenas pequenas cutucadas, apontando que é absurdo  – especialmente porque Wanda está no comando na maior parte do tempo, até mesmo dizendo à Visão o que fazer quando seu chefe, o Sr. Hart, está sufocando e à beira da morte.

No segundo episódio, encontramos Dottie (Emma Caulfield). Ela é o tipo de dona de casa que sempre foi a “vilã” dos seriados – perfeita demais, completamente apaixonada pelo marido e pelos filhos. Dottie lidera a reunião do comitê de planejamento e parece que vai ser uma personagem que leva a esse sexismo.

Mas, assim como tudo nesta série, sua personagem vira de cabeça para baixo com uma simples troca. Quando um rádio começa a chamar Wanda, ela ainda fica chocada e sai do estado de choque apenas quando um vidro quebra na mão de Dottie. Antes de sair para cuidar de si mesma, Dottie faz uma pergunta a Wanda sobre sangue e linho branco. Esperando algum tipo de resposta típica de “dona de casa”,  Dottie diz: “Fazendo isso sozinha”. E ficou claro, que WandaVision não iria por esse lado das sitcoms, mas não estava descartando que ele existisse também.

O que WandaVision faz é cutucar essas narrativas sexistas e, observando-as na era moderna, deixa claro o quão absolutamente absurdas elas eram naquela época. É sempre sobre o marido, sempre sobre o que ele precisa, e justaposto com Wanda sendo a estrela da série, mostra o quão longe chegamos (e onde ainda precisamos chegar) com a forma como exploramos nossas personagens femininas na televisão (e pare com o sexismo).

No final das contas, WandaVision é, na maior parte, sobre Wanda Maximoff.

Daiane de Mario

Daiane de Mario

Nerd de nascença, professora por vocação e mãe por opção. Amante de Sandman e da Mulher Maravilha, prefere sofá e pipoca do que uma balada num bar, ama o verão, glitter e seres mitológicos.

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