Institucional
Categorias
Sobre
O Garotas Nerds foi criado em 2009 com o objetivo de aumentar a representatividade feminina online, construindo novas narrativas a partir da experiência de mulheres dentro do universo nerd.
Já faz muito tempo que o mundo dos games deixou de ser um espaço dominado por presenças apenas masculinas. De fato, em tempos atuais, a proporção é quase inversa uma vez que, de acordo com pesquisa feita pela Pesquisa Game Brasil, mulheres representavam 58,9% dos jogadores no Brasil no ano passado.
Ainda que esse seja o cenário no consumo de jogos, o mesmo ainda não se traduz dentro do fenômeno que é o universo dos eSports no Brasil e no resto do planeta. A indústria tem atraído cada vez mais mulheres não só como espectadoras – representando 30,4% da audiência de eSports em 2018, segundo pesquisa da Interpret –, mas também como atletas em potencial em jogos que ainda contam com predominância masculina.
Quebrar individualmente barreiras estabelecidas por esse tipo de ambiente seria uma tarefa hercúlea. Os obstáculos, como falta de representatividade, são grandes. Por sorte, hoje temos excelentes iniciativas que têm conseguido grandes avanços em comparação a tempos anteriores e que procuram unir pessoas em prol de maior inserção do gênero feminino nos eSports.
Coletivos que buscam expandir o número de mulheres nos eSports e, assim, encontrar maior equilíbrio entre a representação feminina no cenário e os atletas que sobem nos palcos já têm grande apoio tanto lá fora quanto aqui no Brasil. Em âmbito internacional, um dos grandes projetos é o Women in Games: iniciativa criada em 2009 cujo foco é trazer mais mulheres para a indústria de videogames como um todo – o que não deixa de incluir o cenário competitivo de jogos.
No Brasil estamos também muito bem servidos nesse âmbito. Um dos destaques é o Projeto Sakura, que busca apoiar as componentes do cenário feminino brasileiro e até mesmo montar campeonatos de eSports para times femininos, já contando com grande apoio de público e até de empresas para essa empreitada. Nessa mesma linha, temos a revista Capricho, que, em conjunto com a holding de entretenimento BBL, apoia torneios para mulheres, como o Circuito Feminino de eSports, e a E-Minas, evento organizado pela Atlética da Matemática da USP para discutir sobre a presença feminina na indústria de games e eSports.
Entretanto, nem tudo são flores para as mulheres no mundo dos jogos. Por sorte, temos também iniciativas que buscam extinguir os problemas vindos da toxicidade dos ambientes virtuais. O projeto You Go Girls tem como lema acolher as mulheres envolvidas no mundo dos jogos online, mas que se sentem oprimidas pela comunidade. Ao mesmo tempo, o My Game My Name serviu para conscientizar jogadores acerca do assédio sofrido pelas mulheres nesse ramo.
Apesar dos fatos mencionados, o espaço para mulheres nos eSports só tem aumentado. Antigas referências do meio, como a apresentadora de League of Legends Eefje “Sjokz” Depoortere, já não se encontram mais sozinhas na indústria.
No Brasil, Camila “Camilota” Silveira e Bianca “Thaiga” Lula Rodrigues já se tornaram nomes conhecidos do cenário de League of Legends, principalmente para aqueles que dedicam suas noites para acompanhar o Circuito Desafiante do cenário. Ambas fazem a “dupla função” de streamers em horas vagas, mantendo audiências sólidas em seus
canais.
Lá fora, essa inserção também dá largos passos. No mundo do streaming, a jogadora de Fortnite Imane “Pokimane” Anys e a atleta de Teamfight Tactics Rumay “itsHAFU” Wang – que foi também recrutada por uma das maiores equipes de League of Legends do mundo, a G2 eSports – são líderes de audiência na Twitch. Enquanto isso, Kim
“Geguri” Se-yeon faz história como a primeira jogadora na Overwatch League, atuando pela Shanghai Dragons desde 2018.
Os avanços relativos à inclusão feminina nos eSports têm aumentado bastante, ainda que as estimativas de 2016, de que apenas 5% dos atletas no meio sejam do sexo feminino, talvez ainda não tenham evoluído tanto quanto o esperado. O potencial para a inclusão de gêneros, no entanto, é enorme, visto que o setor ainda tem muito espaço para ser explorado.
A taxa de crescimento de 15% do cenário como um todo, entre 2018 e 2019, demonstra o potencial que o ramo de eSports apresenta. Algumas empresas estão sendo visionárias e têm investido nessa área. Marcas de diversos setores, como Red Bull e ESPN, patrocinam torneios e transmitem campeonatos, respectivamente. A Betway Esportes, casa de apostas online é outro exemplo de marca que está se conectando à área ao integrar chances de aposta em eSports aos seus produtos. Em pioneirismo semelhante, encontra-se a Logitech, com seu apoio a inúmeros atletas e
times desde os primórdios do cenário competitivo de jogos.
Times de esportes mais tradicionais como o futebol também estão prestando bastante atenção naquele que pode se tornar o seu grande concorrente no futuro. O maior exemplo nacional é o time montado pelo Flamengo, que contou com uma quantidade de recursos nunca antes vista na história de League of Legends no Brasil para montar
um supertime que representou o país no Mundial do eSport este ano.
É importante notar que o crescimento dos eSports abrirá muitos espaços de inserção para novos profissionais nessa ainda tão jovem indústria. Entretanto, para que o cenário comece a refletir cada vez mais o seu verdadeiro recorte de gênero, é preciso que as ações coletivas de integração de mulheres ao ramo continuem ganhando
espaço. Os passos dados hoje podem ser mais curtos do que o esperado, mas já proporcionam um belo avanço em comparação à situação prévia, na qual esse tipo de pensamento pró-diversidade não permeava a mente do público nem dos “cabeças” da indústria.
Para tanto, é preciso manter vivos os esforços que podem ainda ser embrionários, mas que têm chance de alcançar grandes dimensões a longo prazo. Isso exigirá apoio não só do setor em si, mas também do público, como meio de não permitir que a importância dessa causa se perca no pensamento coletivo.